8.8.12

 

Exercícios de Concisão Meditativa III


Intróito :

«Para as Empresas, exigimos que se recrutem os melhores; para o Governo da Nação, aceitamos que se nomeiem os mais espertos, os mais velhacos, os mais versados na pulhice. Depois, queixamo-nos de que somos mal governados»

Um viajante, que nos tivesse deixado nas vésperas do 25 de Abril de 1974 e regressado por estes dias, poderia fazer-nos algumas perguntas embaraçosas :
- Portugueses : Que fizestes vós do vasto Império quinhentista ?
- Entregámo-lo aos «Movimentos de Libertação» das Colónias.
- E as Indústrias, que é feito delas ?
- Onde estão as Empresas de Metalomecânica que tínheis em funcionamento, como a Mague e a Sorefame, por exemplo ?
- E a Siderurgia Nacional ?
- E os Cimentos e os Estaleiros Navais, a Lisnave, a Setenave, etc. ?
- Umas fechámo-las, por economicamente inviáveis e outras vendemo-las, para diminuir a dívida do Estado ?
- Vendeste-las a quem ? Aos Capitalistas, às antigas famílias exploradoras do operariado português ?
- Não, a esses, não. Vendemo-las antes a estrangeiros, algumas ao Estado Chinês que, abençoadamente, se converteu ao Capitalismo, ainda que sob o comando político do seu sempiterno e iluminado Partido Comunista.
- E as Empresas de Navegação, de transporte de passageiros e de carga, quantas existem ainda em funcionamento ?
- Marítimas, nenhuma, por acaso. Tivemos de desistir delas, porque se tornaram todas economicamente inviáveis.
- Tudo isso, apesar de pagardes salários relativamente baixos aos trabalhadores ?
- Mesmo assim, muito mais elevados dos que os dos trabalhadores asiáticos, chineses, coreanos e outros mais, que tudo aceitam, por qualquer tipo de trabalho, ainda o mais penoso.
- Então, se haveis vendido tantos bens, tanto património, deveis ter arrecadado bom dinheiro, haveis certamente entesourado.
- Infelizmente não, porque havíamos contraído tantas dívidas, que mal deu o proveito das vendas para pagá-las.
- E quem vos conduziu neste intervalo que levo de ausência ?
- Os melhores Economistas e Financeiros de que há memória de terem existido em Portugal, alguns formados nas mais conceituadas Universidades americanas e europeias e que até lá foram Professores.
- E estais satisfeitos com o resultado da sua intervenção ?
- Isso, não. Cada vez duvidamos mais do rumo que trilhamos, por eles traçado.
- E agora ? Que futuro vislumbrais ?
- Um futuro negro, de muito sacrifício, de muita incerteza.
- Pois também tal me parece. E acaso haveis castigado, punido ou responsabilizado algum desses supostos magos da Economia ?
- Também não. Apenas nos lamentamos e carpimos imenso.
- Então continuai assim, que o vosso caminho de redenção será certamente longo e assaz penoso.
E dizendo isto o anónimo viajante se retira, desgostoso e mesmo irado com tanta inépcia, tanta inércia e tanta lamúria inconsequente…

AV_Lisboa, 08 de Agosto de 2012

Comments:
Caro António Viriato

Mais uma vez nos apresenta aqui um belo texto, sarcástico e algo amargo, que traduz aquilo que vai na alma de muitos bons portugueses que ainda se lembram dos tempos em que havia valores nacionais.
Bem ou mal, havia um rumo, uma maneira de estar, uma esperança no futuro.
Mas tudo começou a ruir em 1961 e os portugueses não foram capazes de encontrar uma solução honrosa que garantisse os legítimos interesses de todos os envolvidos, europeus, africanos e outros.
Enveredou-se por uma guerra insensata, imprudente (como são todas as guerras) e desastrosa, que terminou com a queda do regime e o desmoronamento atabalhoado do Império.
E, daí para a frente, libertou-se o povo e a asneira é o fartar vilanagem.
 
Caro Amigo Fernado Vouga,

Às vezes, pela fábula as verdades tornam-se mais atraentes, quiçá, mais evidentes.

Tínhamos um Império, que durou tempo de mais. Sustentámos uma guerra o tempo suficiente para que pudesse ser encontrada uma solução digna para todos. Mas no final tudo correu mal. Os actores que apareceram tinham os papéis previamente estudados, que não contemplavam nem os interesses de Portugal, nem os dos colonos brancos, nem tão-pouco os das populações negras, mas tão-somente os de outrem, no caso os das potências comunistas, a ex-URSS e a China.E aquilo que fora denodamente defendido acabou ingloriamente em mãos ávidas, alheias à História daquelas terras e aos sentimentos daquelas gentes.E isto hoje dói-nos. Um dia, esperemos, haverá gente isenta capaz de avaliar o esforço e a dedicação dos Portugueses a essas Terras e às suas gentes.
Um abraço de amizade
 
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